Silvia terminava o banho imersa em pensamentos sobre o encontro daquela tarde, mais um entre tantos outros que já haviam ocorrido. Aquele, contudo, seria especial e prometia mudanças radicais no relacionamento com Teo.
Saiu do chuveiro e envolveu-se na toalha branca felpuda. Enxugou-se, acariciando a pele branca e suave que rescendia a aroma floral. Uma janela aberta permitiu que um vento frio atingisse seu corpo ainda quente e úmido. Açoitadas por uma descarga elétrica, as auréolas dos seus seios arrepiaram e os bicos endureceram. Como seria bom tê-los assim quando Teo ousasse descobri-los. Fechou a janela e continuou com os preparativos.
Olhou-se no espelho, notando o recente corte que deixara o cabelo mais curto, destacando ainda mais o negrume dos fios sedosos. Penteou-os apenas com os dedos, conforme fora recomendado pelo cabeleireiro. Ele tinha razão. O rosto ganhou expressão mais jovem e agressiva. Os lábios rosados mereciam um pouco de brilho: tratou de aplicar o batom incolor que acabara de comprar. Pensou em destacar os olhos com rimel, mas, achou exagerado e abandonou a ideia.
Olhou novamente para os seios, agora já refeitos do choque térmico. Gostou do que viu. Cheinhos. Não avantajados – mulheres de peitos grandes sempre lhe pareceram excessivamente maternais –, exalavam o aroma da essência de banho misturado com o da mulher desejosa. Era assim que Silvia gostava de sentir-se. Um pouco maliciosa, um pouco puta.
Dirigiu-se à cômoda e abriu a gaveta de lingerie. Vejamos, o que escolher? Decidiu pelo conjunto rosa de sutiã e calcinha, feito de microfibra leve e transparente. Condiz com o tesão que sinto. Vestiu primeiro a peça de cima, acomodando suavemente os seios no côncavo do tecido suave. Segurando-os com a mão em concha, acariciou-os, gerando nova descarga elétrica. Eles responderão assim ao toque de Teo! Sacudiu a cabeça, voltando a si, a consciência roubada pelos devaneios e a excitação do próprio toque. Novamente, notou o cabelo discretamente despenteado. Ficou muito bom mesmo. Ah, Teo, me aguarde.
Vestiu a calcinha, puxando-a suavemente pelas pernas, bamboleando um pouco as coxas para acomodar a peça nos belos quadris. Olhou para os pelos pubianos que criavam um volume acolchoado sobre sua vulva. Alguns homens preferem as peludas, bocetas virgens não debastadas. Gostam de abrir caminho pelo matagal de pelos com suas barbas bem aparadas e ásperas. Um contraste deliciosamente sensual. Teo será um desses?
Olhou o visual no espelho: havia um corpo voluptuoso sutilmente visivel por trás da delicada lingerie. Enquanto Silvia, com a polpa dos dedos, ajeitava a fina barra da calcinha sobre suas coxas, um último retoque, os mamilos voltaram a endurecer. Por um instante, pensou em se tocar, adentrando com os dedos a selva pubiana, à procura de gozo, mas desistiu; atrasava-se para o encontro. Reservaria o privilégio para Teo.
Sobrepôs à toda sensualidade o curto vestido tubinho preto que abotoava nas costas. Teo tentaria desabotoá-lo, envolvendo-a nos braços, ou pediria que ela se virasse de costas para ele?Atarrachou displicentemente os pequenos brincos de pérola nas orelhas, completando-os com um discreto colar. Pronta, vestida para matar, brincou consigo mesma.
Chegou ao prédio de cinco andares, na ampla piazza comercial do centro da cidade. Como de costume, pegou o elevador, clicando o botão do quarto andar. Atravessou o corredor e parou diante do número 405. Sentia-se-molhada-entre-as-pernas. Antes de abrir a porta com a chave que lhe foi dada por Teo, procurou checar uma vez mais sua imagem na lâmina de bronze lustro fixado à entrada: Teodoclus Miranda, Psicanalista.
Uma última ajeitada no vestido, rodou a chave e entrou.
Deu na antessala, olhou para o relógio e constatou que estava adiantada três minutos; sequer sentou-se, olhando hipnotizada para a porta da sala de análise que abriu-se a seguir.
– Bom dia, Silvia.
– Bom dia, Teo – respondeu com o coração a sair pela boca, deitando-se de imediato no divã, na esperança de ali desaparecer. Segundos eternos para se recompor. Olhou para as coxas deixadas à mostra pelo tubinho preto, conforme premeditara em seus secretos devaneios. Sentiu-se pecaminosa. Cruzou as mãos sobre o ventre arfante e conseguiu murmurar:
– Teo, tive um sonho...
Roque Tadeu Gui