Uma coisa da qual não gosto é a de ser acordado pelo João-de-Barro. Êta pássaro enjoado! Logo cedo, faz um barulhaço; além de ser madrugador – o que todos os passáros são – parece que tem preferência por se acasalar de manhazinha, com os primeiros raios de sol, sei lá... faz uma confusão! Prefiro os sabiás! Ah, os sabiás entoam uma melodia celestial, uma verdadeira música dos anjos.
Pois é. Tive um sonho na noite passada. Não sei se já te falei sobre uma amiguinha que tive aos seis ou sete anos de idade. Ela era pequenina como eu, usava uma calcinha cor-de-rosa com babadinhos... Nessa época eu ganhei um velocípede, aprendi a andar e levava a menina na garupa, para cima e para baixo. Aonde eu ia levava minha companheira. Eu falava muito com ela, mas falava sozinho porque ela nada dizia; acho que ela era muito pequena. Ah, eu ainda não disse, mas ela era uma garota imaginária!
Bom, parece que essa garotinha cresceu e virou uma balzaquiana. Resolveu aparecer em meu sonho de ontem à noite. Uma mulher madura, interessante, bonita, sensual. Passamos a noite juntos, quero dizer, juntos no meu sonho. Saíamos para caminhar, conversávamos longamente, podia falar com ela sobre os assuntos que me interessam, minhas preocupações. Sentia-me... recompensado. Palavra estranha essa, não? Quero dizer, ela dava retorno às coisas que eu dizia. E eu sentia que recebia algo de volta, que minha fala não era em vão. Agora, me vem a palavra reciprocidade... Senti-me como a muito tempo não me sentia: leve, vivo e feliz! O ar era carregado de energia sexual, embora não houvesse imagens sexuais. Muito diferente de minha vida com Maria Luiza...
O sonho rolou até de manhazinha. Preferia não ter acordado, de tão bom que estava o sonho. Mas acordei. Com o canto do sabiá! Passei o dia leve, pensando nas mulheres que fizeram parte de minha vida.
Roque Tadeu Gui
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