Num encontro de acasos, os novos amigos se descobriram. Ela sempre atrasada, ele sempre a esperava. A mulher-sem-tempo se eternizava na infinitude-de-dias-e-noites que amargava o homem. Ele andava de malas prontas, desgostoso da vida e das pessoas, mas se divertia com a ingenuidade da mulher que vivia a desfazer bagagens e queixar-se da pressa do mundo.
Trinta minutos era o tempo que lhes foi reservado quando se dera o anúncio do juízo final. A primeira pergunta, ele a disparou sem piedade: o que você faz com as relações? Atônita, balbuciou: o possível. Mas aquela era a resposta dele à pergunta por ela devolvida! Deixara os velhos amigos a entreter-se com os livros que não podiam ler e esperar pelo alívio de sua companhia que já não cedia, rendido à dor e ao isolamento.
A mulher angustiada quebrava a amargura muda desse homem. E feito luz da tarde se infiltrando entre folhagens densas num jardim solitário, a alma do homem abria-se suavemente e iluminava o rosto daquela mulher, com a doçura e vivacidade que só se pode receber dos mais generosos amigos.
Naquela metade de hora de prosa aleatória, ninguém mais sabia o que era excesso ou escassez. Era apenas tempo sem medidas. Abusada, a mulher antecipou-se a encerrar seu falatório para não ser interrompida pelo cansaço e esgotamento do homem, pois até os amigos se cansam. Consegui te manter por meia hora ao telefone, uma glória, provocou triunfante a amiga. O homem, como era sábio e generoso, apenas sorriu. O silêncio que se seguiu encorajou os sentimentos da mulher. Precioso tempo, ela sussurrou, estar com você durante esses poucos eternos minutos. Tal como o pôr-do-sol, quando se olha novamente já se foi, mas não se esquece sua imagem. E assim, antes que ele partisse, ela pode dele ouvir, amo você.
Cláudia Carneiro
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