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sábado, 8 de maio de 2010

Minimalismo

O glamour do encontro havia-me sido anunciado há tempos. A começar pelo local, a casa de um figuraço da cidade. Chegamos, pontualmente, Giba e eu. Sem problemas para estacionar sábado à noite, numa rua estreita, manobristas nos aguardavam e, o melhor, a despesa também correria por conta do anfitrião. Na entrada, um pórtico arquitetônico minimalista, o mordomo que mais parecia uma peça ornamental da mansão, nos recebeu perguntando: - Querem conhecer a casa? Sem entender e, até considerando a oferta desproposital, agradecemos e adentramos o palacete à procura dos demais convidados. Caminhamos, descemos a escadaria enquanto admirávamos o belíssimo e suntuoso piso de mármore de Carrara - o mesmo utilizado no Panteão da Roma Antiga lembrado por nós das nossas aulas de história. Inadvertidamente surpreendi-me com os pés metidos no espelho d’água que ladeava a piscina, confundindo-o com o brilhante piso. Quanta vergonha! Com os pés molhados, sem saber o que fazer, sentindo-me inadequada, ouvia a gargalhada de Giba que denunciava o acidente ali diante de todos. Ao longo da noite ouvimos comentários sobre a suntuosidade da construção, do cenário clean, da academia de ginástica, da lancha estacionada na beira do lugar, enfim, tudo aquilo que costumo sonhar enquanto folheio as revistas de arquitetura. Tudo isso foi me causando um misto de deslumbramento e espanto. Parecia-me faltar alguma coisa. Ah... As bugigangas! Aquelas que habitam o dia-a-dia de nossas moradas. Onde estariam os porta-retratos, bibelôs, lembranças de viagem, faturas de cartão de crédito, moedas, rolhas, contas de luz e telefone, bóias e espaguetes da piscina, enfim, tudo aquilo que entulha e ao mesmo tempo revela a vida ordinária de todos nós? Passou-me pela cabeça a possibilidade da existência de uma sala secreta, desconhecida dos moradores e oculta ao olhar dos visitantes, ainda que acompanhados pelo mordomo, na qual se esconderiam as alegrias e as tristezas da grande casa. O quarto da verdade.

Beth Mori

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