Anunciem nas superquadras: Teodoclus Miranda morreu! Antes de tudo, meu amigo. Não digo que “foi” ou que “era”, mas apenas “meu amigo” porque ocupa um espaço em minha mente e em meu coração, assim como dos amigos eleitos, que ele teve muitos. Depois, notável psicanalista, amante da escrita – por isso mesmo, contista amador –, viveu uma vida de trabalho. Na verdade, não se sabe ao certo o que era trabalho e o que era invenção para Teo – assim o chamávamos, na intimidade que nos era permitida. Teo inventou de ser psicanalista, de brincar com a alma, sua e a dos outros, e foi bom em sua invenção, ajudando a muitos e a si mesmo. Morou em terras distantes – foi à Europa só para se apaixonar por uma inglesa, a adorável Helen: a paixão foi arrebatadora e dela nasceu o amado filho, Sinclair. Separado da mulher amada, Teo escolheu fincar raízes em Brasília, e foi assim que fecundou nossas vidas com sua presença bem humorada e, às vezes, nostálgica. Gostava de beber, mas não era um alcoólico: elegera o Borgonha como elixir para louvar à vida e, como ato ritual, bebia melhor com os amigos do que sozinho: precisava da audiência que ouvisse sobre suas andanças, as peripécias de sua paixão desregulada por Helen e o amor orgulhoso por seu filho. Gostava de mentir, mas suas mentiras eram literárias e surgiam a serviço do cultivo da alma; dizia que a imaginação era a lembrança da vocação para a liberdade que fora gravada por um Demiurgo na alma dos mortais. Teo era um poeta.
Deixa saudosos amigos, seu dois labradores – Igor e Tor –, Helen, o grande amor, e Sinclair, o venerado filho, que não puderam lhe dar o último adeus. Por testamento de amizade, fico com seus contos não publicados.
Roque Tadeu Gui
Roque, você haverá de encontrar uma forma de ressuscitar nosso fabuloso Teo.
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