Nunca aprendi a ser homem. Embora tenha crescido com a presença de meu pai e cercado de irmãos mais velhos, nenhum deles conseguiu me ensinar a respeito da masculinidade. Não lembro de ter sentido o calor do corpo de meu pai. Ele era um homem arredio, pouco dado a manifestações de afeto, seja por palavras, seja por gestos. Era como se ele não tivesse corpo. Sua presença exalava a autoridade que exigia respeito, até mesmo temor. Afeto não. Tivesse ele me colocado no colo e talvez eu pudesse ter sentido a presença de sua virilidade. Quem sabe eu não tivesse ficado tão a mercê da magia afetuosa de minha mãe, santa mulher!
Meu pai era bruto, não tinha respeito por minha mãe. Não lembro de gestos ostensivos de violência, mas também nunca o surprendi em momento de ternura. Nunca consegui imaginar que eu poderia ser um homem como meu pai. Ele me negou a sua masculinidade. Hoje, procuro homens que possam ser meus amigos. Admiro-os. Desejo ansiosamente fazer parte dessa confraria cujo acesso me foi proibido, assimilar uma essência que me faz falta. Invejo homens como Jimmi Hendrix e Nei Matogrosso. Ambos possuem corpos que expressam sua verdade; eles são muito machos. Das mulheres, amo Clarice Linspector, ela viu a verdade. E a verdade é terrível.
Roque Tadeu Gui
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