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sexta-feira, 4 de junho de 2010

Genivaldo

Poderíamos dizer que Genivaldo fosse um sujeito bem ajustado à vida. Aparência simplória, fala mansa, poucas palavras, gestos comedidos. Genivaldo trabalhava como montador de veículos em uma grande montadora da cidade e morava de aluguel a poucos metros da Fábrica, em um apartamento de um quarto, no alto de uma floricultura. Parecia de bem com a vida.
Há uns bons anos, Genivaldo vinha nutrindo certa admiração por uma colega de trabalho, mas este era um assunto que ele fazia questão de manter sob sigilo. Nem Eleonora, a admirada, o sabia.
O que ninguém desconfiava mesmo é que Genivaldo era um sujeito meio esquisito. Na intimidade, vivia atormentado por uma infinidade de “manias”: lavar o banheiro três vezes por dia; contar diariamente a quantidade de camisas, calças, meias e cuecas existentes no guarda-roupa; conferir várias vezes a fechadura da porta antes de sair; seu ritual diário de higiene consistia numa extenuante tarefa que lhe custava três longas horas de execução. A lista de rituais era enorme e bem antiga. Vivia só.
No trabalho, era considerado um funcionário exemplar, sempre eficiente e preciso. Os colegas atribuíam-lhe os melhores elogios. Bom caráter, amigo, respeitava a todos, embora fosse de pouca conversa. Apesar disso, era capaz de entrar em desespero quando alguém insinuava uma possível visita a sua casa. Logo desconversava, inventava uma desculpa e o assunto se encerrava. Sentia que precisava manter tudo sob controle; assim, tinha a impressão de estar bem. Assim era Genivaldo.

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