A que viemos?
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sexta-feira, 4 de junho de 2010
O apartamento do nono andar
Meu nome é Sebastião de Pádua Meira Gallo, afetivamente chamado de Tião Gallo pelos mais íntimos. Tenho oitenta e três anos, uma saúde de dar inveja a qualquer atleta. Moro sozinho no apartamento 312 de um prédio de doze andares, perto do centro da cidade de São Paulo. De vez em quando, recebo a visita de uns parentes, de um ou dois amigos, e de alguns vizinhos. Moro nesse mesmo apartamento há mais de vinte anos e, durante todo esse tempo, deparei-me com inúmeras situações inusitadas, relacionadas à vizinhança. Conheço todos os moradores, exceto um casal que recentemente mudou-se para o apartamento 905, e que vem me tirando o sono. Não porque façam barulho ou sujeira, nada disso! Tiram meu sono justamente porque são estranhos e silenciosos. Já tentei me aproximar, conversar sobre amenidades, mas o casal parece não gostar dessas gentilezas. Certo dia, tomamos o mesmo elevador, subindo para nossos apartamentos, e notei que traziam um enorme embrulho, lacrado com fitas adesivas transparentes. Fiquei muito curioso, mas não sabia o que fazer para descobrir o que era aquilo. Então, ofereci-me para ajudar, mas o casal rapidamente negou a minha ajuda. Achei aquilo esquisito e decidi que começaria a investigar. Alguns dias depois, encontrei-me com outro vizinho, o Silveira, e começamos a conversar. Conversa vai, conversa vem, e Silveira acabou dizendo que já havia percebido algo estranho acontecendo no nono andar. Não tivemos dúvida de que o melhor a fazer era irmos conversar com o síndico. Foi o que fizemos. Seu Paschoal, o síndico, um homem de uns sessenta e cinco anos, nos recebeu muito bem. Pediu-nos que aguardássemos um pouco, pois iria vestir-se para descer conosco até a sala da administração do prédio. Quando descemos, seu Paschoal lamentou, mas informou-nos que não estava autorizado a falar sobre os atuais ocupantes do apartamento 905. Ficamos espantados. Como? Por quê? Que mistério era esse? O que estaria escondendo? Rapidamente, Silveira e eu nos levantamos. Exigíamos explicações, afinal, pagávamos nossos condomínios em dia, éramos bons moradores, etcetera e tal. Seu Paschoal manteve-se fiel à gentileza que lhe era peculiar e disse que, em alguns dias, tudo se resolveria e a paz retornaria ao nosso prédio. Duas semanas depois, numa terça-feira, por volta das dez horas da manhã, nosso prédio foi alvo de assédio da polícia e de vários curiosos. Soubemos, então, que um seqüestro de morador do prédio vizinho havia sido resolvido, graças à brilhante diligência de um casal de detetives, os moradores do apartamento 905!
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