Lúcia levantou-se cedo, o marido já havia saído para o trabalho. Acordou os meninos e preparou-lhes o café da manhã, já que a empregada, como sempre, só chegaria mais tarde. Assim que tudo estava pronto, levou-os à escola, como de costume. Marcelo, de 10 anos, havia amanhecido febril, mas ela imaginou que pudesse ser uma reação à vacina que ele havia tomado no dia anterior. Paulo, o de 12 anos, estava sonolento. Cristiano, o de 15, teria prova no primeiro horário e não podia se atrasar. Na noite anterior tinham ido deitar tarde, pois receberam a visita dos avós paternos que, há muito, não viam.
Apressou-se a chegar na escola. O trânsito da segunda-feira de manhã estava difícil, precisou fazer vários desvios além do habitual. Felizmente, tudo certo, os meninos entraram na escola e ela seguiu para mais um longo dia. Já em casa, Lúcia lembrou-se de um pedido de Cristiano: precisava de um jogo de tintas para usar no dia seguinte. Pensou que o melhor a fazer seria aproveitar a ida ao supermercado e comprar as tintas por lá. Foi o que fez.
Ao sair do supermercado, deu-se conta de que havia prometido ao seu orientador de doutorado enviar a ementa de um curso que ministraria em breve. Correu para casa, sentou-se ao computador e pôs-se a trabalhar. Às 11h50 rumou para a escola para buscar os filhos. Marcelo estava indisposto. Deixou Paulo e Cristiano em casa para o almoço e levou Marcelo ao hospital. Depois de medicado, Marcelo disse-lhe que estava com fome. Foram para casa.
À tarde, Lúcia sentou-se novamente ao computador para concluir sua tarefa. Os meninos estavam em seus quartos estudando. Às 15h30, Lúcia lembrou-se de que a empregada havia lhe pedido um adiantamento e que ela ainda não havia efetuado o saque para pagá-la. Correu para o caixa-eletrônico mais próximo de casa e efetuou o saque. A empregada foi embora às 17h, como de hábito.
Às 18h saiu para deixar as crianças na casa de sua mãe, pois queria assistir a uma palestra na universidade às 19h. A palestra estava interessante e se estendeu até 21h. Na volta, com os meninos cochilando dentro do carro, lembrou-se de que ainda precisava fazer algumas coisas em casa antes de dormir e sentiu-se esgotada. Ao chegar em casa, após verificar que os meninos já estavam em suas camas e que tudo estava mais calmo, exaurida, desejou estirar-se no sofá, como nunca faz, e assistir a um programa de televisão. Assim que se acomodou, o marido entrou em casa, retornando do trabalho. Ao vê-la deitada no sofá, diz: “você vai acabar ficando doente, sem fazer nada o dia inteiro, só deitada aí nesse sofá”. Lúcia olhou-o indignada, e, quase sem voz, exclamou: "puta-que-pariu!"
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